Pará, terra de muitos sabores e culturas. Do açaí, do cheiro-cheiroso, do carimbó, do brega e da paixão. Paixão esta revelada através do futebol. A arte das chuteiras e da bola a rolar nos pés que faz arquibancadas lotarem no Mangueirão, em dia de ReXPa. Mas o Estado também é uma terra de gigantes, não daqueles que fazem referência ao grandão Golias, personagem bíblico derrotado por David. Juiz, assopre o apito! São os Gigantes do Norte entrando em campo, o primeiro time de craques anões do mundo e que nasceu no Pará.
Pensando bem, a parábola bíblica do Golias se aplica, sim, à vida desses grandes jogadores. Só que em sentido inverso. Dessa vez, são os gigantes que ganham a briga, e nesse caso, a altura é só um detalhe, nem vale como documento.
Fundado em novembro de 2007 pela Tuna Luso Brasileira, o time que hoje conta com 21 anões, com idades entre 15 e 42 anos, funciona como uma equipe profissional. Tem técnico, médico, treinos regulares, jogos dentro e fora do Estado, enfim, tudo como um grande time. Mas, para chegar nesse nível, não foi fácil.
Tudo nasceu assim, meio na informalidade, mas sem perder a obstinação. Surgiu de uma conversa entre o atual presidente do Gigantes do Norte, o experiente ex-técnico da Tuna, Carlos Alberto Lucena, e um anão apaixonado por futebol, Alberto Jorge, 36, mais conhecido como o personagem “Capacidade”, do programa Metendo Bronca, da TV RBA. Capacidade, que foi mascote do Tiradentes, não se importava com a altura, pedia para participar dos treinos da Tuna e Lucena deixava. Afinal, o rapaz tinha talento com os pés e com a bola.
Nesses treinos descompromissados, os dois tiveram a ideia de montar um time de anões, que além de representar uma atração para os torcedores, seria, principalmente, um instrumento de inclusão social para portadores de nanismo - doença genética e alvo de muita discriminação. Eles elaboraram um projeto que foi submetido e aprovado pela direção da Tuna. Começava o primeiro tempo da partida: nascia oficialmente o Gigantes do Norte. Um anúncio na TV serviu para atrair os futuros craques. Logo no primeiro dia apareceram sete anões. Mas ainda havia o segundo período do jogo, que, aliás não terminou até hoje: era preciso correr atrás não da bola, mas de patrocínios.
Aos poucos, os gigantes conseguiram espaço para treinar, uniformes e toda a estrutura necessária para os jogos. O apoio veio da Tuna Luso, de empresários, admiradores e das rendas provenientes das competições. Até dezembro do ano passado, eles recebiam mensalmente 500 reais, além de outras ajudas esporádicas, dinheiro este que foi ficando escasso para manter, sobretudo, aqueles que ajudam suas famílias e vieram de interior do Pará - e até de outros estados - para participar do time. Além disso, todos os anões praticamente sobrevivem do trabalho com o esporte. Raros são os casos como o de Capacidade, que tem outro trabalho paralelo.
“Levamos a bandeira do Pará para todos os lugares e somos muito bem recebidos. Mas em termos de patrocínio, ninguém olha pra gente, nem mesmo o governo”, desabafa Lucena. Ele diz ainda que hoje a única forma de manter o time é com a venda dos DVDs de entrevistas que eles concederam a emissoras nacionais e de partidas jogadas fora do Estado, bem como da renda dos jogos, que são insuficientes para manter uma equipe profissional.
Há pouco tempo o time também conseguiu tirar o número do seu CNPJ, o que facilitaria a concessão de incentivos, no entanto, eles ainda esperam que alguém se interesse em patrociná-los. A carência de recursos faz com que o time limite o ingresso de novos anões, inclusive de outros estados, dispostos e se tornarem “gigantes”.
Talento, disciplina e muita bola no pé
Para se adequarem ao porte físico dos Gigantes do Norte, as partidas sofrem alterações. São dois tempos de apenas 35 minutos cada. O goleiro não pode ser anão, mas um garoto entre 13 e 17 anos. A trave, assim como a bola, não tem o tamanho reduzido. Os adversários dos gigantes são garotos do sub-13, times de portadores de necessidades especiais e de mulheres. E é preciso muito fôlego para aguentar uma rotina de quatro a cinco jogos por semana e dois treinos no mesmo período.
Quando estão em campo, é um espetáculo: dribles, jogadas e gols de mestres. Tem ainda as brincadeiras de Casimiro Ribeiro, o atacante “Vagner Love”, que fica com os dois pés em cima da bola para provocar os adversários, antes de chutar para o gol. É tradicional a barreira, nas cobranças de pênaltis, formada por pelos menos cinco anões, equilibrados uns em cima dos outros. O talento rendeu a cada anão do time apelidos similar aos dos craques dos grandes times brasileiros. Além de Vagner Love, tem ainda Cafu, Kaká, Petkovic, Ronaldo, Ronaldinho e outros. Eles honram a camisa do time e os apelidos também. “Muitos deles jogam melhor que jogadores profissionais”, afirma, com ar de quem conhece bem futebol, o treinador do Gigantes, Isaac Simões.
POR QUE SE ORGULHAR?
O Gigantes do Norte é o primeiro e único time de anões do mundo. Aonde vão, levam a bandeira do Pará e mostram que o futebol é prática acessível para qualquer pessoa, independente de ser portadora de alguma deficiência física. Seus atletas são exemplos de superação, profissionalismo, dedicação e, sobretudo, amor pelo ao Pará.
fonte: Diariodopara
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Eles no programa do JÔ:
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